sábado, 8 de novembro de 2008

INCLUSÃO SOCIAL: A MATEMÁTICA NO CONTEXTO DOS SURDOS



INTRODUÇÃO
Com o objetivo de complementar a formação inicial dos alunos do Curso de Licenciatura em Matemática – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu, o Laboratório de Ensino de Matemática LEM-Foz tem realizado diversas palestras com professores oriundos de outros Estados brasileiros e de outras realidades.
As palestras tem acontecido de acordo com as possibilidades de trazermos estes professores para Foz do Iguaçu e com o interesse dos alunos.
Por termos vários alunos no Curso de Licenciatura em Matemática que trabalham como intérpretes para alunos surdos surgiu o interesse por este tema e dessa forma, buscando compreender um pouco mais a respeito dos surdos e de como podemos facilitar sua aprendizagem em relação a matemática, realizamos duas palestras. Uma com a Prof.a. Márcia Helena Elias Carrenho e a outra com a Prof.a Ana Paula Geraldi.
A palestra “A Educação de Surdos no Contexto Nacional” proferida pela Prof.a. Márcia Helena Elias Carrenho relatou a respeito do ensino de modo geral e de forma especial o ensino de matemática para os alunos surdos. Segundo a professora, existe uma grande falta de profissionais qualificados para trabalhar com esses alunos. A relevância desta palestra esteve no fato de que a inclusão social deve ser respeitada e o professor deve estar cada vez melhor preparado para enfrentar esses desafios.
Já a palestra “Relato de uma Experiência Educacional: a Importância da Relação Linguagem - Pensamento das Crianças Surdas” proferida pela Prof.a Ana Paula Geraldi contou-nos a experiência da palestrante na sua adolescência com alguns amigos surdos, em situações simples de interação e convívio (encontros na rua principal da cidade), o que a levou a realizar e concretizar sua escolha profissional: o desejo de compreender o que as mãos tão ágeis daqueles jovens falavam. Também chamou a atenção que o mais importante para quem tem uma relação com a criança surda é não perder de vista o desenvolvimento da criança como um todo, não somente dar atenção à surdez e sim ter conhecimento do desenvolvimento infantil, cognitivo, da socialização e, principalmente do desenvolvimento de linguagem.
Através destas palestras pudemos discutir a questão da inclusão social, haja vista que a educação especial, dentre elas, a educação de surdos é um novo campo de trabalho para o licenciado em matemática.
Como resultado destas palestras tivemos um grupo de alunos interessados em participar de um projeto de extensão que visasse trabalhar a matemática com estes alunos surdos e uma monografia de conclusão decurso.

DESENVOLVIMENTO E DISCUSSÃO
O projeto de extensão consistiu em aulas de matemática na Associação de Pais e Amigos dos Surdos de Foz do Iguaçu - APASFI, realizada por alunos do segundo ano do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE, campus de Foz do Iguaçu, no ano letivo de 2003.
No inicio das aulas ao se deparar com os alunos surdos, os alunos da Universidade, agora professores, e nós professoras, não tínhamos noção de como estabelecer uma comunicação com os surdos e durante as aulas havia uma intérprete. Após as explicações ela transmitia aos alunos através da linguagem de sinais.
No entanto, as aulas estavam complicadas, pois os alunos olhavam para a intérprete e não para os professores, quando eles apontavam algo no quadro, os alunos não viam, pois estavam prestando atenção nela. Aos poucos tornou-se necessário que os professores aprendessem alguns sinais, como números, letras e algumas palavras mais usadas, com isso a intérprete já não ficava o tempo todo na sala e, dessa forma a interação intensificou, os alunos participavam bastante, a ponto de não querer sair para o intervalo na tentativa de resolver um exercício, mas não gostavam de exercícios fáceis, falavam que contas com 4 operações eram simples e se negavam a fazer.
O relacionamento entre os alunos da Universidade (alunos - professores) e os alunos surdos melhorou consideravelmente a medida que os alunos - professores aprenderam alguns sinais da linguagem de sinais.
A monografia “O Ensino da Matemática para os Surdos” desenvolvida pela acadêmica Graziely Grassi do Curso de Licenciatura em Matemática e orientada pela Prof.a. Ms. Renata Camacho Bezerra, constatou que os surdos (como qualquer aluno) apresentam dificuldades para aprender matemática e que ensiná-la não é apenas traduzir para gestos um planejamento de matemática baseado no desenvolvimento cognitivo da criança ouvinte, mas sim desenvolver um planejamento que possibilite à criança surda operar mentalmente utilizando materiais concretos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
No desenvolvimento deste projeto, pudemos perceber como é importante que o futuro professor de matemática tenha contato com as diferentes realidades. Pudemos também aprofundar, no âmbito da Universidade, a discussão a respeito da inclusão social.
Os surdos são pessoas muito inteligentes, mas muito desconfiados, não gostam de ver duas pessoas ouvintes conversando entre si, acham que estão falando deles, também não gostam de atividades fáceis, gostam de exercícios que desafiem seus conhecimento e que exijam deles raciocínio.
A experiência deste projeto com alunos surdos foi muito proveitosa para nós enquanto professoras, para os futuros professores e acreditamos que para os alunos surdos.
Ao final deste projeto, notamos a falta de profissional qualificado para o trabalho com os surdos e ainda o quanto é necessário discutirmos e buscarmos uma melhor qualificação no intuito de trabalharmos corretamente com a inclusão social.

BIBLIOGRAFIA
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2 comentários:

Kelson disse...

Bom trabalho professor Kelson, a matemática pode ser um elo como inclusão social com surdos.

Unknown disse...

Olá Kelson,
Pretendo pesquisar como está se dando o ensino de matemática para crianças surdas nas classes inclusivas, aqui na PB.
Você tem conhecimento de pesquisa com crianças, cujo tema seja Surdez e Matemática?
Um abraço
Eliane